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Seleção Brasileira

Rogério Ceni participou de 17 partidas pela Seleção Brasileira, mas não obteve, com a camisa da Seleção, o mesmo sucesso que conseguiu no São Paulo. Como titular, disputou só uma competição oficial: a Copa das Confederações de 1997, na Arábia Saudita. Mas, ainda assim, se indispôs com o então técnico, Zagallo. O goleiro reclamou da “brincadeira” de outros jogadores de, sem permissão, cortar o cabelo dos colegas. O Velho Lobo viu “falta de espírito de grupo”.

 

Com a entrada de Luxemburgo no comando da seleção, o goleiro teve novamente uma chance. Porém, uma atuação não tão boa contra o time do Barcelona, num amistoso, deixou o goleiro de fora das novas listas de convocação.

Depois de um longo exílio, o goleiro voltou a ser convocado pelo técnico Emerson Leão e assumiu a condição de titular da Seleção Brasileira. Na vitória por 1 a 0 sobre a Colômbia, pelas Eliminatórias da Copa do Mundo de 2002, Rogério teve a chance de bater uma falta e quase marcou o seu primeiro gol com a camisa amarelinha. Integrou o elenco pentacampeão do mundo pelo Brasil em 2002. Atuou pela primeira e única vez na Copa em 22 de junho de 2006 ao substituir Dida aos trinta e seis minutos do segundo tempo, na partida em que a seleção derrotou o Japão por 4 a 1. Este fato significou a quebra de um tabu que já durava quarenta anos, pois a última vez que a seleção brasileira utilizou dois goleiros numa mesma Copa havia sido em 1966, na Inglaterra.

Canarinho indomável

Por ROGÉRIO CENI

(Trecho do livro MAIORIDADE PENAL)

 

Perfilado, com a camisa da Seleção, ouvindo o hino nacional.

Já passei por isso 17 vezes, e em todas elas me emocionei. Gosto de pensar que um país continental, o meu país, está em grande parte “mandando” energias positivas para 11 homens defenderem a nação. Não se trata de patriotismo barato, não é a minha cara. Sei que poderia ter escrito uma história mais bonita na Seleção. Mais rica, mais próxima da traçada no clube. Não foi possível, principalmente porque o Rogério do São Paulo é um (não me crucifique pela referência em terceira pessoa), e o da Seleção, obrigatoriamente, tem que ser outro.

No São Paulo, consigo dar tudo de mim. Na Seleção, não. No São Paulo, consigo agilidade na reposição de bola, fruto do perfeito entrosamento com os jogadores de velocidade. Nosso time joga assim há anos. A Seleção não vai jogar assim nem daqui a séculos. Se por acaso jogasse, minha trajetória nela provavelmente seria outra. Não posso afirmar isso, porque o ambiente de Seleção é muito diferente do de um clube, apesar de ter conhecido muita gente legal nela. Comparo o São Paulo à minha casa, e a Seleção, a um hotel. Existem ótimos hotéis que nunca terão o conforto do nosso lar.

O pior hotel, ou a Seleção de convivência mais difícil que encontrei, foi a que disputou e ganhou a Copa das Confederações de 1997, na Arábia Saudita. Ironicamente, o hotel em Riad era espetacular.

A primeira etapa da viagem, em Johannesburgo, até que foi boa. Vencemos a África do Sul por 3 X 2, depois de eles abrirem 2 X 0 (o jogo do aviãozinho do Zagallo). Dividi quarto com um dos sujeitos mais sensacionais que conheci no futebol: César Sampaio.

O volante, já com bastante nome, carreira consolidada, se esforçava para me deixar à vontade. Entre outras gentilezas, sempre me emprestava seu discman.

No meio do torneio em Riad, um grupo de mais ou menos oito jogadores teve a ideia de raspar a cabeça do time todo, titulares e reservas. A primeira vítima foi o Russo, lateral do Vitória, que, iniciante, fazendo qualquer coisa para agradar, adorou ter o cabelo cortado.

No desespero de proteger a “juba”, o zagueiro Gonçalves se trancou no quarto. Em vão. Gonçalves só conseguiu ser o último a ficar careca.

Meu quarto estava aberto. Sabia que mais cedo ou mais tarde chegaria a minha vez. E chegou. Júnior Baiano e Flávio Conceição, entre outros, entraram no meu quarto portando máquina e tesoura. Verbalmente, resisti quanto pude:

- Ó, o negócio é o seguinte: não quero raspar. Não tô a fim de brincadeira, não vou brigar, mas comigo, por favor, não!

Alguém, não vi direito quem, passou a máquina e tirou uma faixa do meu cabelo. Esperei os caras saírem do quarto e, sem outra opção, raspei a cabeça. Mas fiquei pê da vida.

Reclamei publicamente do comportamento infantil da Seleção, mais apropriado a um time em viagem de jogos estudantis. Tão bravo quanto eu, só que mais vivido, Leonardo me recomendou ter calma. Tudo bem, mas pra mim a viagem tinha acabado ali.

Havia uma programação de filmes na TV do hotel. Eram dois filmes noturnos, divididos em quatro sessões: às 21h, 23h, 1h e 3h da manhã. O filme das 21h era repetido à 1h, e o das 23h, às 3h da madrugada. Eu assistia a todos, todos os dias. Dormia das cinco (depois da sirene da primeira oração) ao meio-dia. Almoçava em 15 minutos, voltava para dormir mais uns minutinhos, acordava, saía pra treinar às três da tarde, tomava banho, jantava, e quarto. Só conversava o básico necessário e, mesmo assim, apenas com os mais chegados.

Pessoas do time e da comissão técnica não gostaram da minha postura. Acharam que eu deveria ter levado na brincadeira aquela história.

Zagallo não me convocou mais. Um direito dele. E, analisando os demais goleiros da época, bem mais experientes do que eu, acho até que ele tinha razão.

Voltei à Seleção Brasileira após a Copa de 1998, no começo da gestão Vanderlei Luxemburgo. Fui convocado também por Leão, Candinho, além de Scolari e Parreira.

O hino ainda me emociona. Não importa se vestindo a amarelinha ou a tricolor do coração.

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