Meu Tesouro: luvas de Rogério Ceni inspiram goleiro do XV de Piracicaba
- sergiodallalba
- 17 de dez. de 2014
- 5 min de leitura
Fonte: GloboEsporte.com
Mateus Pasinato, de 22 anos, guarda com carinho presente dado pelo arqueiro do São Paulo no Paulistão deste ano. "Me chamou pelo nome", recorda-se camisa 1
O ano de 1992 é o elo entre Mateus Pasinato, atual goleiro titular do XV de Piracicaba, e Rogério Ceni. Enquanto um nascia, o outro subia ao profissional do São Paulo, clube pelo qual atuou em toda a carreira e que estendeu seu vínculo por mais seis meses, adiando a aposentadoria mais uma vez. A relação fã e ídolo, aliás, ultrapassou os limites das arquibancadas neste ano e deixou marcas que jamais serão esquecidas pelo jovem arqueiro da equipe do interior. O encontro no Campeonato Paulista, no único duelo entre mestre a aprendiz, rendeu ao camisa 1 do Nhô Quim um presente do ícone tricolor. As luvas utilizadas pelo mito estão com Pasinato e se tornaram símbolos de inspiração para trilhar o mesmo caminho daquele que, com muito orgulho, ele pode chamar de ídolo.

– Às vezes olho para ela (luva) e nem acredito que aquela situação toda aconteceu. Que o Rogério veio e falou comigo, me chamou pelo nome e disse que tinha visto meu jogo anterior, que eu tinha ido bem. Eu pensava: "É verdade o que está acontecendo?". A luva, para mim, significa a realização de um sonho. Porque o Rogério sempre foi minha referência no futebol e, hoje, ter a luva que ele jogou contra mim é motivo de honra. Ele sempre foi meu ídolo, desde pequeno. Seja na batida na bola, até como ele se posicionava. E principalmente fora de campo. Eu sempre vi as preleções dele como capitão – derreteu-se o goleiro quinzista. Apesar de reviver o momento mágico até hoje e se inspirar no ídolo da mesma posição, Pasinato deixa de lado as comparações quando o assunto é cobrar pênaltis pelo Nhô Quim. Ele, aliás, reconhece quais são os fundamentos que precisa observar mais para aprender com Ceni. O ídolo são-paulino cobra faltas desde 1997, quando marcou seu primeiro gol no quesito e virou cobrador oficial de pênaltis do Tricolor com o passar dos anos. Desde então, foi 123 vezes às redes dos adversários (63 de pênalti, 59 de falta e um de bola rolando).
– Isso aí deixa para ele (risos). Isso só ele que faz com maestria. Meu papel é ali embaixo do gol. Eu procuro ver o jeito que ele bate na bola. A inspiração é de outra maneira. A reposição dele é a melhor do Brasil. E também o posicionamento, como ele orienta os zagueiros, o meio-campo, qual a segurança que ele passa para o time – afirmou o camisa 1 do Nhô Quim, titular na campanha da Copa Paulista deste ano e forte candidato a manter a posição no Paulistão.

O par de luvas é tratado pelo jovem como um tesouro. Tanto que fica na casa dos pais de Pasinato, em Santa Catarina. O goleiro do XV descarta a chance de utilizar o material na temporada 2015. Mesmo assim, confidenciou que já fez um teste com o presente, mas sem colocar efetivamente em jogo. Vestir a luva, ainda que fora das quatro linhas, é uma maneira curiosa de conquistar a experiência necessária para seguir os passos do ídolo. – Essa luva tem um lugar especial mesmo, porque, além de agora ser minha, antes foi do Rogério Ceni. Então tem um valor dobrado. Não tem dinheiro no mundo que compre. Só o fato de estar aqui e representar tudo o que foi aquela noite não tem nem o que falar. A única coisa que eu fiz com ela foi colocar na mão para pegar experiência e para virem os títulos (risos). Depois eu guardei e disse: "Não mexo mais." Eu nem lavei, está do jeito com que ele jogou. Coloquei na mão para teoricamente me sentir um Rogério Ceni – contou.
A NOITE INESQUECÍVEL
Rogério Ceni e Mateus conversam em campo (Foto: Arquivo Pessoal)
A noite de 26 de fevereiro é inesquecível para Pasinato. O goleiro do XV lembra cada detalhe do dia em que se encontrou com o ídolo Rogério Ceni. As emoções tiveram início antes mesmo de a bola rolar no Barão da Serra Negra. Logo após o Hino Nacional, os jogadores de XV e São Paulo se cumprimentaram como dita o protocolo. Foi aí que houve o primeiro encontro com o tricolor. – Depois do hino, cumprimentando todos os jogadores, foi chegando o Rogério Ceni. Parecia que aquele momento não estava acontecendo, de tão especial. Eu pensei: "Vou jogar contra o São Paulo." Foi a realização de um sonho. Aí chegando, eu pensei: "Meu Deus, o que eu vou falar para ele?''. Antes de cumprimentá-lo, ele me chamou pelo nome, disse que me acompanhou no último jogo, que o time tinha jogado bem mesmo com a derrota, me desejou um bom jogo e disse que depois a gente conversaria – lembra o arqueiro.

O jogo anterior do Nhô Quim tinha sido a derrota por 1 a 0 para o Bragantino, em Bragança Paulista, Pasinato, porém, teve destaque com boas defesas, como bem observou o são-paulino. O fato de Rogério Ceni ter dito que acompanhou a partida mexeu com o jovem goleiro do XV. – Ter esse reconhecimento de um ídolo no futebol, consagrado, inquestionável, dá motivação. Você quer ainda mais se espelhar nesse cara. Ele parou, assistiu ao jogo anterior. Essa atitude, como ser humano, mexeu comigo. Como profissional, todo mundo sabe que ele é inquestionável. Até o momento foi a noite que eu nunca vou esquecer na minha vida. Foi a noite da minha vida. A gente perdeu de 3 a 1, mas só o fato de ter jogado contra o São Paulo conta toda a história – contou o quinzista.
Apesar de pouco se importar com o placar, Pasinato ainda disse que faltou algo naquela noite. Isso porque o São Paulo teve um pênalti a seu favor no segundo tempo. Cobrador oficial, Ceni passou a missão para o atacante colombiano Pabón. O fato é lamentado pelo goleiro do Alvinegro até hoje. – Estava torcendo para ele vir cobrar o pênalti. Se eu defendesse, seria a maior alegria da minha vida. Pegar um pênalti dele seria o auge de tudo. Aí seria uma noite completa. Seria até uma honra tomar o gol dele – completou.
faltou o quê?
Rogério Ceni é, de longe, um multicampeão. O goleiro do São Paulo tem três títulos mundiais (o último, em 2005, como titular) e o mesmo número de conquistas de Libertadores (92, 93 e 2005) e Brasileirão (2006, 2007 e 2008). Ainda esteve na campanha do quinto título mundial da seleção brasileira, em 2002, como um dos reservas de Marcos. O que falta para o camisa 1 do Tricolor? Pasinato diz que o ídolo poderia ter levantado uma taça como titular da equipe canarinho. – Se faltou algo, foi só um título na seleção brasileira jogando. Ele já conquistou tudo. A carreira dele foi inquestionável, completa. A história que ele tem. Se faltou, acho que foi só isso. Espero sempre fazer o melhor de mim, independentemente de onde eu estiver. Almejo chegar a um time grande, ser respeitado pela torcida e chegar a uma seleção brasileira, que é o sonho de todo menino que joga futebol. Eu sei que é longe, difícil, mas vamos atrás desse sonho – revelou.
Além de Ceni, o goleiro do XV também sempre busca inspiração em outros atletas que vestiram a camisa 1, casos de Dida, que atualmente defende o Internacional, e Marcos, aposentado, mas um dos maiores ídolos do Palmeiras. Agora, se espelha em nomes que atuam na Europa, como Neuer, do Bayern de Munique e titular da Alemanha na conquista da Copa do Mundo no Brasil. – Quando criança, eu via bastante o Dida, Rogério e o Marcos. Hoje, como referência, por biotipo, questões que dá para se identificar, o Neuer, o Hart, do Manchester City, e o Cortouis, que tem a minha idade e chegou a uma Copa do Mundo (goleiro belga, titular do Chelsea). Cada um tem características diferentes e, se a gente não pode ser igual, a gente tenta chegar mais ou menos perto – conclui o aprendiz de Ceni do XV.

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